Sobre o evento

As emergências contemporâneas, de amplitude global, implicam novos posicionamentos sobre o pesquisar no campo do Design e, consequentemente, atualizações teóricas e metodológicas que operacionalizam as suas teorias e práticas. Como a pesquisa em Design se posiciona perante os impactos ambientais, os impasses relacionados ao mundo do trabalho e da inovação, às dinâmicas de produção e consumo, às formas de comunicação e às práticas tradicionais que encontramos no Maranhão, um estado localizado às bordas da Amazônia Legal? 

A JOP’Design 2021, em sua segunda edição, traz à luz as discussões sobre Saberes locais e temáticas emergentes em Design. Por temáticas emergentes, aludimos àquelas que surgem em contextos de crise como a que estamos vivenciando, com a pandemia gerada pela COVID-19, e que muito dialogam com um dos paradigmas epistemológicos contemporâneos do Design. A história vem apresentando o Design como uma atividade de largo espectro disciplinar, a qual tem sido fundamental no desenvolvimento da humanidade e seus desafios sociais e tecnológicos, inovando e melhorando a maneira de se produzir e de se viver (COUTO, 2011). Ezio Manzini (2015) aponta novas vertentes para a atuação dos designers, trazendo a discussão sobre modos de Design, quando se assume a capacidade projetual de nossos interlocutores. E mais ainda, podemos abrir o espaço para os diálogos e processos criativos a partir do fazer, incluindo as habilidades e qualidades dos seres vivos, materiais e ambientes (INGOLD, 2013; INGOLD e HALLAM, 2007). 

Assim, o tema relaciona-se com as iniciativas de fomento à inovação tecnológica com a inclusão sócio cultural, a gestão dos recursos e sustentabilidade dos processos produtivos no estado do Maranhão, especificamente, e no Brasil, de forma mais ampla. A JOP’Design 2021 traz, em seu bojo, a discussão sobre a pesquisa em Design a partir da condição tecnológica como parte do processo, mas entende-se que a conjuntura global sobre o futuro do planeta implica um reposicionamento e uma perspectiva de aproximação com as problemáticas locais que atentem para as necessidades específicas, da ordem do dia, urgências provocadas por um contexto de crise mundial (SANTOS, 2020; HARAWAY, 2016; STENGERS, 2015). 

Para corresponder a isso, é necessária a reflexão sobre a atividade projetual e a pesquisa em Design, pensando os processos produtivos e criativos que suportem a construção dialógica do conhecimento, deslocando os sentidos do produto de Design (BINDER et al, 2011), abrindo-se os processos projetuais, reconhecendo a habilidade projetual e o engajamento de todos os envolvidos nas questões de Design, incluindo a experimentação, naquilo que podemos identificar como  intervenção especulativa (DISALVO, 2016; HALSE et al, 2010). 

Pela pluralidade das ações, procedimentos e abordagens das pesquisas em Design, além das inúmeras inquietações investigadas por elas, considerando suas práticas contemporâneas, pretende-se discutir a respeito de temáticas emergentes das mais variadas formas. Sob uma visão holística, tal discussão pode pontuar desde o envolvimento integral da intervenção especulativa, sob abordagens colaborativas, participativas e de cocriação, a situações que envolvam pesquisas delineadas no âmbito quantitativo, por meio de circunstâncias que trabalhem hipóteses e variáveis e técnicas de mensuração, por exemplo. De forma abrangente, convidamos à imaginação de futuros em Design.

BINDER, T., DE MICHELIS, G., EHN, P., JACUGGI, G., LINDE, P.; WAGNER I. Design Things. Cambridge, MA: The MIT Press, 2011.

COUTO, R. M. de S. O processo de pesquisa é fascinante e desafiador. In: de MORAES, D., DIAS, R. A., BOM CONSELHO, R. (Eds.). Cadernos de estudos avançados em design – Método. Barbacena: EdUEMG, 2011. pp. 99-116.

DISALVO, C. “The Irony of Drones for Foraging: Exploring the Work of Speculative Interventions”. In: Smith, R.; Vangkilde, K.; Kjaersgaard, M.; Halse, J.; Binder, T. (Eds.). Design Anthropological Futures. London, New York: Bloomsbury, 2016.

HALSE, J.; BRANDT, E.; CLARK, B.; BINDER, T. (Eds.). Rehearsing the future. Copenhagen: The Danish Design School Press, 2010. 

HARAWAY, D. Staying with the trouble: making kin in the Chthulucene (Experimental Futures). Durham: Duke University Press, 2016. 

INGOLD, T. Making: anthropology, archeology, art and architecture. London: Routledge, 2013. 

INGOLD, T.; HALLAM, E. Creativity and cultural improvisation. Oxford, New York: Berg, 2007.

MANZINI, Ezio. Design, when everbody design. Na introduction to Design for Social innovation. The MIT Press. Cambridge/London: 2015.

SANTOS, B. S. A cruel pedagogia do vírus. Coimbra: Edições Almedina, 2020.

STENGERS, I. No tempo das catástrofes. São Paulo: CosacNaify, 2015.